Confronto entre policiais e indígenas em MS deixa 1 morto e 10 feridos
Diego Oliveira, Redação Cenário MScom informações Campo Grande News
Acabou em confronto a disputa de terra por indígenas guarani kaiowá e policiais, no território de Guapoy, em Amambai. Na quinta-feira (23), o grupo entrou na área ontem (24), equipes do Batalhão de Choque foram até o local. Um indígena identificado por Vito Fernandes, 42 anos, morreu e ao todo 10 pessoas ficaram feridas, sendo 7 índios e 3 policiais.
Segundo o CIMI(Conselho Indígena Missionário), grupo de 30 indígenas entrou na quinta à tarde na fazenda Borda da Mata, chamada pelos guarani de "Território de Guapoy". Ontem, por volta das 10 horas, a PM tentou a retirada. Os indígenas denunciam que a operação ocorreu sem ordem judicial e que deveria ter sido feita pela Polícia Federal, não pela PM.
"Policiais militares e fazendeiros invadiram a área, na manhã desta sexta-feira (24), no intuito de expulsar, através do uso da força, os indígenas – mesmo não havendo ordem judicial. Foram feitos vários disparos de bala de borracha contra os indígenas", esclarece o CIMI.
Coordenador do CIMI regional afirma ainda que os povos disseram que não sairão do local. “Como houve conflito com a PM, perdeu qualquer capacidade de interlocução com os policiais. Eles pedem investigação da PF no local”, disse.
O Batalhão de Choque confirmou que equipes foram até o local. De acordo com os policiais, foram recebidos a tiros quando se aproximavam da fazenda.
A gerente da fazenda Borda da Mata, Angélica Cristina Silveira Peixer, de 47 anos, alegou que os indígenas invadiram a área e, com a chegada do Batalhão de Choque da PM (Polícia Militar), chegaram a deixar a fazenda. No entanto, após a saída dos policiais, ainda na quinta-feira (23) quatro indígenas entraram armados na propriedade, fizeram disparos de arma de fogo, ameaças e retomaram novamente o espaço. Ainda conforme a gerente, no momento em que ela registrou o boletim de ocorrência o imóvel rural estava ocupado por cerca de 30 indígenas, que, segundo ela, vandalizaram o local e causaram dano no interior da fazenda.
Em coletiva ontem, o secretário de Estado de Justiça e Segurança Pública, Antonio Carlos Videira, informou que a Polícia Militar foi acionada, na noite desta quinta-feira (23), para atender ocorrência de "crime contra o patrimônio e crime contra a vida" na Fazenda Borda da Mata, propriedade próxima da aldeia.
O secretário negou que se tratasse de uma reintegração e também disse que haviam sido registradas reclamações das próprias lideranças da aldeia de Amambai, sobre indígenas que trabalham em roças de maconha no Paraguai e que teriam ido para a aldeia tentar destituir a atual liderança.
O Cimi (Conselho Indigenista Missionário) contesta a informação, alegando que o Estado usurpou a competência da PF (Polícia Federal), sabendo se tratar de ocupação envolvendo indígenas.
Vítimas
O guarani kaiowá, Vito Fernandes morreu no conflito entre policiais, fazendeiros e indígenas em Amambai, na região sul do Estado. O homem de 42 anos foi levado ao Hospital Regional de Amambai, mas chegou sem vida. Ontem, a informação repassada pelo diretor do hospital, é que a vítima chegou com três perfurações.
O confronto deixou 10 feridos, 7 índios e 3 policias do Batalhão de Choque de Campo Grande. Apesar da informação inicial ser de uso de balas de borracha, segundo a diretor do Hospital Regional de Amambai, Paulo Sérgio Catto, todos os feridos foram atingidos por disparos de arma letal.
Os casos mais graves são de uma jovem de 22 anos e da menina de 13, ambas baleadas no abdome. Outros 5 adolescentes guarani kaiowá estão sob cuidados médicos. Duas vítimas já foram transferidos para Ponta Porã, onde passarão por cirurgia. Um teve fratura no fêmur, provocada por tiro.
Com ferimentos leves, também foram atendidos no local 3 policiais do Batalhão de Choque de Campo Grande.
Dos sete indígenas feridos durante confronto com o Batalhão de Choque da Polícia Militar, três já foram liberados do Hospital Regional de Amambai neste sábado (25).
Ao Campo Grande News, diretor do Hospital Regional de Amambai, informou que os pacientes foram liberados por estarem com ferimentos leves e não necessitarem de cuidados no hospital. Os três teriam sido levados do local por equipe da polícia, mas não soube informar o porquê. A reportagem tentou contato com a Polícia Militar assim como a Polícia Civil de Amambai, mas a informação de que os indígenas teriam sido detidos ainda não foi confirmada.
Hoje lideranças indígenas informaram uma segunda morte que teria ocorrido no confronto. Autoridades da segurança pública confirmam apenas que houve um óbito em decorrência da intervenção policial. A vítima teria 13 anos e foi identificada apenas como Paulino, conhecido como "Paraguadito".
Ontem, o diretor do Hospital Regional de Amambai, Paulo Sérgio Catto, afirmou que apenas um indígena teria chegado à unidade já sem vida e seria um rapaz de aproximadamente 25 anos, que não teve a identidade divulgada.
O secretário estadual de Segurança, Antonio Carlos Videira, afirmou neste sábado que até agora, não foi informado mais mortes, além da de Vito Fernandes. A Pax Amambai Ltda., que está no plantão funerário, também não foi acionada para buscar corpos.
Segundo nota da Aty Guasu - grupo que representa a comunidade indígena -, enviada na manhã deste sábado (25), dois mortos foram confirmados - seriam Vito Fernandes e Paulino -, mas que a comunidade afirma que ao menos quatro morreram e cerca de 10 ficaram feridos, na região da Fazenda Borda da Mata, onde aconteceu o conflito.
Lideranças que estão na região explicam que o corpo do adolescente, assim como de outros mortos, ainda estão na área de conflito. Por isso, não há confirmação oficial dos óbitos.
Confronto
Um vídeo compartilhado no Instagram, mostra o momento em que policiais militares do Batalhão do Choque chegam à fazenda Borda da Mata. No registro, indígenas aparecem indo de encontro a uma viatura da PM.
No vídeo, ouve-se o som de um primeiro disparo. Um rapaz vai para o chão, mas não é possível distinguir se ele estava ferido ou obedecendo a ordem do policial. Outros dois militares se aproximam e mais três tiros são disparados. "Deita, deita, deita", diz um dos policiais enquanto o rapaz se mexe e outros indígenas vão de encontro ao batalhão. Um deles porta um arco e flecha. Enquanto isso, atrás da viatura, é possível ver fileira com dezenas de policiais do Batalhão do Choque chegando a pé ao local.
Cerca de 100 militares estão na fazenda, segundo a Sejusp (Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública). A secretaria alega que o helicóptero empregado na operação foi alvejado a tiros por criminosos armados. Já grupos que representam os indígenas afirmam que foi a polícia quem chegou atirando, sobrevoando a região.
Os indígenas alegam que a fazenda Borda da Mata é terra Tekoha Gwapo’y Mi Tujury, de ocupação tradicional indígena. Já os fazendeiros afirmam que o local é uma propriedade privada.
Neste sábado (25), um dia depois do confronto que terminou com um morto e dez feridos, policiais do BPChoque (Batalhão de Policiamento de Choque) permanecem na sede da Fazenda Borda da Mata
A situação no entorno da fazenda, distante cerca de 20 quilômetros da zona urbana de Amambai, é considerada delicada e ainda de tensão entre policiais e indígenas. Na cidade, o clima é de tranquilidade e aparente costume com os embates recorrentes na região de fronteira com o Paraguai. “Vira e mexe aqui o couro come”, disse um morador.
A assessoria da 3ª Companhia Independente da PM (Policia Militar) informou que a equipe do Choque está na sede e mantém policiamento constante no entorno, assim como na estrada que divide da propriedade da Aldeia Amambai. Não há previsão de saída dos policiais militares da fazenda.
Em nota, ontem, a PF (Polícia Federal) informou que foi ao local para “avaliar a situação”. Hoje, a informação é que a equipe foi até lá por conta de denúncia de que funcionário da Funai (Fundação Nacional do Índio) havia sido mantido refém. A assessoria relatou que ele encontra-se fora de perigo. O policiamento continua, mas quem está no comando das ações é a Sejusp (Secretaria Estadual de Justiça e Segurança Pública).
“Massacre de Guapoy”
Comunicado feito pela Grande Assembleia Aty Guasu Guarani e Kaiowá classificou o confronto entre indígenas e policiais do BPChoque (Batalhão de Policiamento de Choque) de “Massacre de Guapoy” e pediu a prisão dos responsáveis.
A comunidade reagiu com indignação, classificando o confronto como “ato covarde e ilegal”. Também criticaram a coletiva dada ontem pelo titular da Sejusp (Secretaria Estadual de Justiça e Segurança Pública), Antônio Carlos Videira, que atribui o início da situação tensa a ações agressivas cometidas pelos indígenas e envolvimento de paraguaios na captação para o tráfico de drogas.
“Será que a criança caída, atingida por uma bala de borracha, que consiste em uma das imagens, corresponde ao tráfico de drogas?”. A Grande Assembleia afirma que há dois mortos, mas, até agora, oficialmente um foi morto no confronto: Vito Fernandes, 42 anos, atingido com três tiros de arma letal.
A comunidade pede a prisão dos responsáveis pela ação e investigação de servidores da Funai (Fundação Nacional do Índio) por “coparticipação e facilitação do massacre”. Também criticam a ação do MPF (Ministério Público Federal) de Ponta Porã, que estaria se mostrando lento em defender os direitos dos indígenas.
Conflito em Navirai
Outro conflito aconteceu em Mato Grosso do Sul, na quinta-feira(23). Em Naviraí o conflito aconteceu na Fazenda Tejui, enominado Kurupi/São Lucas. Segundo o Cimi (Conselho Indigenista Missionário, as agressões teriam começado por parte dos fazendeiros e seguranças, todos armados.
Três indígenas Guarani e Kaiowá chegaram a ficar desaparecidos mas apareceram e estão bem, de acordo com o Cimi (Conselho Indigenista Missionário).
Eles haviam desaparecido após confronto entre indígenas, fazendeiros e policiais militares, durante conflito por terras. Entre os desaparecidos haviam mulheres e crianças, mas não há informações sobre o local que eles foram encontrados, já que a comunicação na região é ruim.
